O ouro marrom: Como a crise global do cacau está remodelando o mercado de chocolates e transformando as tradições da Páscoa no Brasil
O cacau enfrenta sua maior crise de preços da história recente. A matéria-prima essencial do chocolate subiu impressionantes 189% em apenas doze meses. Consequentemente, a Páscoa de 2025 será marcada por grandes mudanças nas prateleiras dos supermercados. Além disso, os consumidores precisarão adaptar suas expectativas quanto aos tradicionais ovos de chocolate. Portanto, esta reportagem apresenta um panorama completo sobre esta turbulência no mercado.
O mercado global de cacau está em colapso. Efetivamente, a tonelada chegou a ser comercializada por US$11.040 na bolsa de Nova York em dezembro de 2024. Sem dúvida, este valor representa uma alta de 163% em relação ao mesmo período do ano anterior. De acordo com a FAO, o aumento atingiu picos de até 282% em alguns momentos. No entanto, os especialistas não preveem normalização tão cedo.
Claramente, esta escalada de preços já afeta o dia a dia dos brasileiros. Nos últimos 12 meses, o preço do chocolate em barra subiu 16,53%. Similarmente, os bombons seguiram a mesma tendência de alta. Os chocolates em pó e achocolatados também encareceram 12,49%. Estes dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A crise não atingiu apenas os produtos finais. Na verdade, toda a cadeia produtiva sofre os impactos. Principalmente os pequenos produtores enfrentam dificuldades para manter suas plantações. Sem dúvida, muitos estão abandonando o cultivo por falta de perspectivas de melhora imediata.
Por outro lado, as grandes indústrias tentam equilibrar seus custos. Contudo, o repasse integral ao consumidor seria inviável para o mercado. Ademais, a concorrência obriga as empresas a buscarem alternativas criativas.
A tradicional celebração da Páscoa enfrentará mudanças significativas este ano. Primeiramente, a quantidade de ovos produzidos caiu drasticamente. Serão aproximadamente 45 milhões de unidades disponíveis no mercado. Consequentemente, isso representa uma queda de 22,4% em comparação com 2024. Anteriormente, a produção havia alcançado 58 milhões de ovos. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab).
Além da menor oferta, outros fatores alteraram sua experiência de compra. Evidentemente, os preços estarão mais altos. De fato, o aumento médio ficará entre 8% e 12% nas principais marcas. Naturalmente, o consumidor também encontrará produtos menores. A estratégia conhecida como “reduflação” já está em prática no setor.
A composição dos chocolates também mudou significativamente. Por conseguinte, você encontrará menor concentração de cacau nos produtos. Ao invés disso, as formulações incluirão mais ingredientes alternativos. Certamente, as misturas com biscoitos, amendoim e outros complementos ganharam espaço nas prateleiras.
O setor supermercadista antecipou a comercialização dos produtos pascais. Principalmente para tentar diluir o impacto nos consumidores. Efetivamente, as vendas começaram já no início de março. Portanto, os consumidores têm mais tempo para programar suas compras.
As maiores fabricantes de chocolate também ajustaram suas estratégias. A Cacau Show, por exemplo, reajustou seus preços em cerca de 8% a 10%. Contudo, este aumento ficou abaixo da alta da amêndoa no mercado internacional. Assim, o setor absorveu parte dos custos para não perder consumidores.
Outro fenômeno interessante é a diversificação das opções. Curiosamente, a Abicab anunciou 94 lançamentos para esta Páscoa. Estes novos produtos compõem uma cesta de 83 itens diferentes. Obviamente, esta diversidade visa atender a diferentes faixas de preço.
A disparada nos preços tem raízes profundas e complexas. Inicialmente, problemas climáticos devastam as plantações africanas. O continente africano responde por impressionantes 70% da produção mundial da amêndoa. Especialmente a Costa do Marfim, que sozinha gera 45% do cacau do planeta.
O fenômeno El Niño causou estragos significativos. Primeiramente, provocou secas prolongadas em regiões produtoras. Posteriormente, trouxe chuvas excessivas em momentos críticos do cultivo. Consequentemente, as condições ideais para o desenvolvimento do cacau foram comprometidas.
As doenças também se espalharam rapidamente. Principalmente a podridão parda, causada por um fungo. Esta doença deixa o fruto com odor característico de peixe. Similarmente, o fungo Vascular Streak Dieback devastou plantações na Costa do Marfim e em Gana. Adicionalmente, pragas diversas atacaram os cacaueiros enfraquecidos pelas condições climáticas.
Outro problema grave é o envelhecimento das árvores. Na verdade, muitos produtores africanos não renovaram suas plantações. Um cacaueiro deveria ser substituído a cada 15 ou 20 anos. Entretanto, a falta de investimentos manteve árvores velhas em produção. Portanto, a produtividade caiu drasticamente.
Os números mostram claramente esta queda. A Costa do Marfim, por exemplo, viu sua produção diminuir de 2,12 milhões de toneladas na safra 2022/2023 para 1,8 milhões em 2023/2024. Claramente, uma queda significativa do maior produtor mundial.
A produção mundial de cacau teve seu terceiro ano consecutivo de déficit em 2024. Isso significa que o mundo consome mais cacau do que produz. Desde a safra 2021/2022, deixaram de ser produzidas 758 mil toneladas, segundo a Organização Internacional do Cacau (ICCO).
O Brasil ocupa a sexta posição entre os produtores mundiais. Contudo, essa posição já foi melhor no passado. Anteriormente, o país era autossuficiente em cacau. No entanto, na década de 1980, a doença vassoura-de-bruxa dizimou as plantações brasileiras. Desde então, o setor tenta se recuperar.
Em 2024, a demanda brasileira foi de 229 mil toneladas. Contudo, a produção nacional atingiu apenas 179.431 mil toneladas. Evidentemente, essa diferença precisou ser coberta por importações. Além disso, o volume representou uma queda de 18,5% em relação a 2023.
A Bahia, maior produtora nacional, sofreu severamente. De fato, o estado registrou queda de 61,8% na produção. Principalmente a podridão parda afetou as plantações baianas. Alguns produtores relataram perdas superiores a 60% da safra.
O Pará, segundo maior produtor nacional, também enfrentou dificuldades. A produção paraense caiu 11,9% no último ano. No entanto, o estado amazônico tem mostrado maior resiliência às doenças que afetam o cacau.
A indústria moageira brasileira começou 2025 com estoques extremamente baixos. Normalmente, o setor processa cerca de 60 mil toneladas no primeiro trimestre. Entretanto, o recebimento de carga nacional não chegou a 20 mil toneladas neste ano. Consequentemente, as importações aumentaram para evitar a paralisação das fábricas.
O setor chocolateiro desenvolveu diferentes abordagens para sobreviver. Primeiramente, as empresas investiram em eficiência produtiva. Além disso, a automação ganhou espaço nas fábricas. Simultaneamente, a inovação em processos tornou-se essencial.
A diversificação de portfólio é outra estratégia amplamente adotada. Principalmente produtos que equilibram chocolate e outros ingredientes ganharam espaço. Por conseguinte, o consumidor encontrará mais opções de chocolates misturados com biscoitos, amendoim e frutas.
As embalagens também passaram por transformações. De fato, muitas empresas reduziram o tamanho dos produtos. Contudo, mantiveram preços semelhantes. Esta prática, conhecida como reduflação, visa amenizar o impacto da alta nos consumidores.
O desenvolvimento de novos sabores intensificou-se no último ano. Efetivamente, as empresas buscam criar experiências que compensem a menor concentração de cacau. Assim, aromas e texturas diferenciadas chegam ao mercado.
A antecipação da comercialização foi adotada por varejistas. Naturalmente, isso dilui as vendas por um período maior. Além disso, permite que o consumidor divida suas compras de Páscoa em mais semanas.
A comunicação com o consumidor também mudou. Principalmente as grandes marcas investem em explicar as mudanças. Claramente, a transparência tornou-se essencial neste momento de crise. Portanto, campanhas educativas sobre o chocolate ganharam espaço.
O futuro do cacau traz alguns sinais contraditórios. Inicialmente, espera-se um aumento da produção mundial em 2025. As condições climáticas parecem mais favoráveis este ano. Consequentemente, as plantações africanas podem se recuperar parcialmente.
A demanda global mostra sinais de desaceleração. Principalmente devido aos preços elevados. Por conseguinte, esse fator pode ajudar a equilibrar o mercado. Assim, a pressão sobre os preços diminuiria gradualmente.
Alguns especialistas projetam queda nos preços para o segundo semestre. Especificamente quando a safra africana chegar ao mercado. Possivelmente, a tonelada poderá recuar para cerca de US$6 mil. No entanto, isso ainda representa um valor alto em termos históricos.
O investimento em novas plantações aumentou nos últimos meses. Claramente, os preços recordes atraíram novos produtores. Contudo, os resultados desses investimentos demorarão a aparecer. O cacau leva entre 5 e 6 anos após o plantio para atingir boa produtividade.
Novas tecnologias podem trazer avanços importantes. Principalmente no desenvolvimento de variedades mais resistentes. Além disso, técnicas de manejo mais eficientes estão sendo pesquisadas. Portanto, a produtividade pode melhorar a médio prazo.
Para o Brasil, as perspectivas são moderadamente positivas. Inicialmente, o país possui características favoráveis ao cultivo. Além disso, há espaço para expansão das plantações. Contudo, a recuperação completa exigirá investimentos consistentes.
O mercado de cacau viverá transformações profundas. Primeiramente, a sustentabilidade ganhará ainda mais importância. Além disso, a rastreabilidade da cadeia produtiva tornar-se-á essencial. Consequentemente, o consumidor terá mais informações sobre a origem do chocolate.
As grandes marcas deverão desenvolver relacionamentos mais próximos com produtores. De fato, a garantia de fornecimento tornou-se estratégica. Assim, parcerias de longo prazo ganharão espaço no setor.
A tecnologia trará novos avanços para o cultivo do cacau. Principalmente a engenharia genética pode desenvolver variedades mais resistentes. Simultaneamente, técnicas de agricultura de precisão ajudarão a aumentar a produtividade. Portanto, a produção poderá crescer sem expandir a área plantada.
O comportamento do consumidor também evoluiu. Provavelmente, aumentará a valorização de chocolates premium com alto teor de cacau. Além disso, cresce o interesse por produtos de origem específica. Assim, chocolates “bean-to-bar” (do grão à barra) ganham mercado.
O Brasil tem potencial para ampliar sua participação mundial. Efetivamente, o país possui clima ideal e terras disponíveis. No entanto, precisará de políticas públicas consistentes. Adicionalmente, investimentos em pesquisa serão fundamentais para recuperar posições no ranking global.
Por que o preço do cacau subiu tanto?
Principalmente devido a problemas climáticos na África, incluindo secas e excesso de chuvas causados pelo El Niño. Além disso, doenças como a podridão parda devastaram plantações. Adicionalmente, as árvores envelhecidas reduziram drasticamente a produtividade.
Quando os preços devem voltar ao normal?
Possivelmente os valores cairão quando a safra africana chegar ao mercado no segundo semestre. Entretanto, a recuperação completa exigirá entre 5 e 6 anos. Durante este período, novos cacaueiros plantados hoje entrarão em produção plena. Consequentemente, a oferta poderá equilibrar-se com a demanda.
Como isso afeta os ovos de Páscoa em 2025?
Certamente haverá menos produtos disponíveis, com queda de 22,4% na produção total. Além disso, os preços aumentarão entre 8% e 12% em média. Simultaneamente, muitos ovos terão tamanhos reduzidos. Consequentemente, a composição incluirá menor concentração de cacau e mais ingredientes alternativos.
O que a indústria está fazendo para contornar a crise?
Notadamente, as empresas diversificam seus portfólios com produtos que usam menos cacau. Além disso, investem em eficiência produtiva e automação. Paralelamente, desenvolvem novas formulações com ingredientes complementares. Desta forma, conseguem amenizar parcialmente o impacto nos preços finais.
O Brasil também foi afetado pela crise? Evidentemente sim, o país enfrentou queda de 18,5% na produção em 2024. Principalmente a Bahia sofreu perdas expressivas de 61,8%. Além disso, o Pará registrou redução de 11,9%. Consequentemente, a indústria moageira brasileira opera com estoques muito abaixo do normal. Portanto, as importações aumentaram para suprir a demanda interna.
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