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Casa por um dólar nos Estados Unidos. Veja se vale a pena
Comprar uma casa por um dólar nos Estados Unidos pode parecer um sonho, mas para muitos, essa oportunidade apresenta desafios complexos. Esse tipo de programa, iniciado em cidades como Baltimore, tem atraído atenção ao longo dos anos.
A proposta não é apenas regenerar bairros decadentes, mas também oferecer uma chance de moradia acessível. Contudo, será que vale a pena investir? Vamos explorar os detalhes e implicacões desse modelo.
A origem do projeto Casa por um dólar nos Estados Unidos
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Baltimore, localizada a apenas 64 km de Washington DC, foi uma das primeiras cidades americanas a adotar essa iniciativa, conhecida como “apropriação original urbana”. O programa teve início nos anos 1970, liderado por Jay Brodie, uma figura central no departamento de habitação da cidade.
As propriedades vagas foram oferecidas por apenas um dólar, permitindo que moradores com recursos limitados pudessem adquirir moradias.
De acordo com Brodie, a ideia rapidamente ganhou notoriedade. “Escolhemos nomes da cartola e começamos a nos reunir com eles.
Depois de terminado, foi capa da revista American Express… e percebemos que tínhamos algo relevante”, relembrou ele. O projeto transformou casas abandonadas em residências reformadas, criando o que ele chamou de exemplos vivos do potencial de revitalização urbana.
Porém, o programa foi interrompido em 1988, após Brodie deixar o cargo. Apesar disso, a ideia inspirou outras cidades ao redor do mundo.
Casos de sucesso internacional
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Um exemplo significativo aconteceu em 2013, na cidade de Liverpool, na Inglaterra. A região enfrentava problemas semelhantes aos de Baltimore, com bairros degradados e propriedades abandonadas.
Tony Mousedale, do departamento de habitação de Liverpool, propôs vender propriedades por uma libra esterlina. A iniciativa focou na área de Webster Triangle, onde muitos compradores viram a oportunidade de reformar e transformar as casas.
“Sentimos que havia um apetite por pessoas interessadas em renovar casas abandonadas”, explicou Mousedale. O projeto recebeu uma resposta muito positiva, capturando a imaginação de muitas pessoas.
No entanto, os desafios não tardaram a surgir. Maxine Sharples, uma compradora, relatou os problemas que enfrentou. “Havia uma árvore crescendo na moldura da janela frontal e ratos por toda parte. Foi muito cansativo”, contou ela.
Apesar das dificuldades, Sharples acredita que o esforço valeu a pena. “Agora, estou vivendo na casa dos meus sonhos, algo que eu mesma renovei por apenas uma libra”, afirmou.
Esquemas semelhantes surgiram em países como Itália e Espanha, mostrando que a ideia de vender propriedades abandonadas por um preço simbólico pode ser replicável em diferentes contextos.
O retorno de Baltimore ao programa
Em 2024, Baltimore retomou o conceito de casas por um dólar, mas com um modelo ajustado. O novo programa, chamado Programa de Preço Fixo, permite que moradores adquiram propriedades abandonadas pelo preço simbólico, desde que atendam a certos critérios.
Os interessados devem comprovar que possuem US$ 90 mil (cerca de R$ 500 mil) para reformas e morar no local por pelo menos cinco anos. Além disso, apenas residentes da cidade podem participar.
Organizações sem fins lucrativos também podem adquirir esses imóveis por um dólar, enquanto grandes empreiteiras pagam cerca de US$ 3 mil (aproximadamente R$ 16,8 mil) por propriedade.
Alice Kennedy, comissária de habitação de Baltimore, destacou o entusiasmo gerado pelo programa. “Acho que o interesse foi maior do que esperávamos”, afirmou. Contudo, poucos participantes conseguiram cumprir os requisitos, demonstrando que os desafios ainda são significativos.
As críticas ao modelo de Casa por um dólar nos Estados Unidos
Embora populares, programas como o de casa por um dólar nos Estados Unidos enfrentam duração críticas.
Um dos mais conhecidos detratores é David Simon, criador da série de televisão The Wire. Segundo Simon, o programa original de Baltimore não ajudou os economicamente marginalizados, pois as propriedades foram adquiridas por pessoas com recursos para financiá-las.
“Isso ajudou a cidade a recuperar sua base tributária, mas não promoveu a distribuição de riqueza”, criticou Simon. “Nenhuma renovação urbana que eu conheça aqui foi realmente igualitária.”
Em Liverpool, o programa também enfrentou desafios semelhantes. Mousedale admitiu que, embora a iniciativa tenha contribuído para a renovação da área, problemas sociais persistem, como comportamento antissocial e casas que ainda não foram renovadas.
Vale a pena investir em uma casa por um dólar?
A resposta é complexa e depende de vários fatores. Primeiramente, é crucial considerar os custos associados à reforma.
Embora o preço da compra seja simbólico, as despesas com materiais e mão de obra podem ser substanciais. Além disso, é importante avaliar se a localização atende às necessidades do comprador.
Ainda mais, outro ponto relevante é o impacto na comunidade local. Em Baltimore, há preocupações de que esses programas possam levar à gentrificação, deslocando moradores de baixa renda.
David Lidz, da Waterbottle Cooperative, alertou para os riscos desse tipo de revitalização. “Você se pergunta: para onde vão essas pessoas? Elas acabam se mudando para outros bairros em decadência, o que perpetua o problema”, explicou ele.
Por outro lado, quando bem implementados, programas como esse podem trazer benefícios significativos. Nesse sentido, eles promovem a recuperação de bairros degradados, aumentam a base tributária da cidade e oferecem oportunidades para pessoas que buscam moradia a um custo acessível.
Conclusão: Casa por um dólar nos Estados Unidos é uma boa opção?
Investir em uma casa por um dólar nos Estados Unidos pode valer a pena para aqueles que estão dispostos a enfrentar os desafios. Embora o custo inicial seja extremamente baixo, os requisitos financeiros e o comprometimento necessário para reformas são substanciais.
É essencial avaliar cuidadosamente a localização, o estado do imóvel e as regras do programa antes de tomar uma decisão. Para alguns, essa pode ser uma oportunidade de transformar uma propriedade abandonada em uma casa dos sonhos. Para outros, os desafios podem superar os benefícios. O sucesso depende de planejamento, recursos financeiros e dedicação.
Perguntas Frequentes
- Como funciona o programa de casa por um dólar nos Estados Unidos?
Para participar, é necessário comprovar recursos financeiros para a reforma do imóvel, residir na cidade e se comprometer a morar no local por cinco anos. - Quais são os custos adicionais envolvidos?
Além de pagar o valor simbólico, o comprador deve investir cerca de US$ 90 mil na reforma da casa para torná-la habitável. - Vale a pena comprar uma casa por um dólar?
Sim, mas depende. É essencial avaliar os custos de reforma, o estado do imóvel e as condições do bairro antes de tomar uma decisão. - Quais cidades nos Estados Unidos oferecem esse programa?
Baltimore é um dos exemplos mais conhecidos, mas outros locais podem implementar iniciativas semelhantes dependendo de suas políticas habitacionais. - Esse programa pode levar à gentrificação?
Sim, há preocupações de que áreas revitalizadas possam expulsar moradores de baixa renda devido ao aumento do custo de vida e dos imóveis.