A conta de luz de setembro vai sofrer um aumento significativo devido ao retorno da bandeira vermelha 2, que não era utilizada desde 2021. Esse aumento afetará a inflação não apenas neste mês, mas também nos próximos. A expectativa é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continue a ser revisado para cima nos próximos boletins do Banco Central.
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A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a mudança na última sexta-feira à noite, após o fechamento dos mercados. Ainda mais, também influenciou a coleta de dados pelo Banco Central para o boletim Focus. No boletim anterior, a projeção mediana para o IPCA deste ano estava em 4,25%, representando o sexto aumento semanal consecutivo. Para setembro, a expectativa era de que o IPCA avançasse 0,27%.
Segundo cálculos do economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), o impacto da bandeira vermelha na conta de luz pode variar entre 0,32 e 0,50 ponto percentual no IPCA de setembro, dependendo das projeções anteriores. Isso ocorre porque a energia elétrica é o segundo componente mais importante do IPCA, com um peso de 4,4083% — o primeiro é a gasolina, com 5,1496%. Além disso, o aumento nos custos de energia pode pressionar outros preços na economia, como os de bens e serviços que dependem de eletricidade.
Nogami destacou que o aumento no custo da energia elétrica para as empresas acaba sendo repassado aos consumidores. Com a bandeira vermelha 2, haverá um acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Esse impacto pode ser particularmente forte se a bandeira vermelha permanecer acionada por vários meses consecutivos, pressionando o IPCA de forma contínua. Ele ainda ressaltou que o impacto varia dependendo da região e da classe de consumo. Em locais onde as famílias dedicam uma maior proporção da renda aos serviços básicos, como energia, o impacto no custo de vida é mais acentuado.
Benito Salomão, professor do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (Ieri-UFU), alertou que ainda é cedo para afirmar se a inflação pode se espalhar para outros setores. No entanto, ele destacou que a bandeira vermelha de patamar dois é um impulso inflacionário em um momento em que a inflação dos últimos 12 meses está próxima do teto da meta. Em julho, o IPCA acumulado em 12 meses foi de 4,50%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), valor que coincide com o teto da meta deste ano.
A falta de chuvas é um dos principais fatores que levou a Aneel alterar a bandeira tarifária. Essa ausência de precipitação afeta diretamente os níveis dos reservatórios que abastecem as hidrelétricas, principais fontes de geração de energia no Brasil. Com os níveis dos reservatórios em baixa, o sistema elétrico nacional é obrigado a acionar as usinas termelétricas. Estas usinas têm um custo de operação mais alto e são mais poluentes, o que encarece a energia para empresas e consumidores.
A estiagem tem se estendido por todo o Centro-Oeste e Sudeste, regiões que vêm enfrentando uma escassez hídrica severa, além de queimadas frequentes que estão sendo investigadas pelas autoridades. Até o momento, pelo menos 11 suspeitos de agir intencionalmente foram presos em São Paulo.
Charles Dayler, doutorando em Ciências Ambientais pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em meio ambiente, explicou que muitos reservatórios de produção de energia estão com níveis baixos. Nesse cenário, o governo é obrigado a acionar usinas termelétricas para garantir o fornecimento de energia, pois não pode permitir que os reservatórios sequem. Com isso, o custo da energia sobe, já que o preço do combustível utilizado nas térmicas é mais alto. Além disso, não há previsão de chuvas significativas até a segunda quinzena de outubro ou novembro. Portanto, ainda há um longo período de seca pela frente, e será necessário economizar a água dos reservatórios.
Assim, a conta de luz de setembro vai subir, refletindo o impacto da bandeira vermelha 2 na tarifa de energia elétrica. As expectativas são de que os custos continuem altos, influenciando a inflação e pressionando o bolso dos consumidores nos próximos meses. É importante que a população esteja atenta às condições climáticas e ao uso consciente de energia, buscando alternativas para economizar e minimizar os efeitos desse aumento nas despesas familiares.
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