Não é só uma impressão: O custo de vida em BH e região está realmente mais caro. Do aluguel à locomoção, da conta no boteco à tarifa da energia elétrica, o belo-horizontino sente mais o aumento de preços do que o restante do Brasil. A princípio, no último ano, a inflação na capital mineira e na região metropolitana superou a média do país. Nesse sentido, além dos números e porcentagens, na prática, o cidadão sente os efeitos da inflação diretamente no bolso. Do mesmo modo, quando pega um ônibus, abastece o carro, vai ao supermercado ou procura uma casa para morar, o impacto é evidente.
Além disso, a inflação acumulada em BH em cada ano tem sido maior do que a média nacional. Então, considerando o salário mínimo, que é o mesmo em todo o país, isso significa que o custo de vida tem subido mais em BH. Ainda mais, no acumulado de 12 meses calculado pelo IBGE, com dados até maio deste ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de BH e região foi de 5,07%. Já o nacional foi de 3,93%.
A inflação acumulada nos últimos cinco ou dez anos mostra que a inflação de BH fica abaixo da brasileira. No entanto, no último ano, a inflação da Grande BH foi a maior das 11 regiões metropolitanas monitoradas pelo IBGE. Ela superou até cidades com um custo de vida historicamente superior: o IPCA foi 3,71% no Rio de Janeiro e 3,87% em São Paulo. Isso não quer dizer que seja mais caro viver em BH do que nesses locais. Significa que os preços na capital mineira estão acelerando com mais velocidade.
Nas ruas, a população percebe os efeitos dessa aceleração no custo de vida. Está caro viver. Uma família de cinco ou seis pessoas não consegue mais ter lazer, alimentação saudável, e o custo da educação está muito alto. A conta de luz aumentou 6,7% recentemente, e o salário não muda. Eu mesma pago aluguel, e minha conta veio R$ 150 neste mês. Com um aluguel de R$ 800 e um salário de R$ 1.420, como ficam a alimentação, a medicação e o estudo da criança? questiona Cátia Magalhães, 43 anos, atualmente desempregada.
Marileny Amorim, analista financeira de 50 anos, também descreve uma vida de aperto. Antes, eu frequentava um clube. Hoje, não frequento mais. Não tenho lazer, é uma vez na vida e outra na morte. Vou usando o cartão de crédito sem parar. Paga e usa, paga e usa. Helbert Pereira, vendedor de 19 anos que mora sozinho, fala sobre a rotina para equilibrar as contas: Antigamente, eu ia a um rodízio e não dava nem R$ 100 direito. Hoje, o bar não sai por menos de R$ 150. Eu ia à academia, mas não dá mais, então faço exercícios em casa. Penso em voltar para o interior.
Ainda mais, a alta de preços em BH é generalizada e afeta todos os grupos acompanhados pelo IBGE. Nesse sentido, a diferença da inflação no Brasil e na Grande BH em grupos fundamentais no dia a dia é significativa. A discrepância chega a 33% na alimentação e 26% nos transportes, por exemplo. São dois grupos com um peso semelhante e alto. Quando há variação de preço dos subitens desses grupos, isso impacta diretamente no geral, porque são muito consumidos pelas famílias, explica Venâncio da Mata, coordenador do IPCA do IBGE em BH e região.
Quando a inflação de uma região se descola da média nacional, como ocorre em BH e região, geralmente é devido a reajustes de serviços públicos. Esse fator teve um forte impacto na cidade nos últimos meses, destaca um especialista do IBGE. Entretanto, esse descolamento que ocorreu no acumulado foi muito devido a dois reajustes em janeiro de 2024. Tivemos aumento da taxa de água e esgoto e, no mesmo mês, reajuste da tarifa de ônibus urbano de 15,89%. Então, só em janeiro, a inflação na região foi 1,1%, enquanto no Brasil foi de 0,42%, uma diferença significativa.
Do mesmo modo, serviços básicos como o transporte tendem a ter um efeito em cascata sobre os demais custos. Um aumento da passagem de ônibus não implica somente pagar mais caro para sair de casa, mas uma mudança no ecossistema econômico da cidade. O aumento da tarifa de ônibus possui dois efeitos. Há o efeito direto sobre o custo de vida, que é a elevação do gasto com esse item. Ou seja, se a renda não aumenta, a família terá que gastar menos com outro item para acomodar a elevação da tarifa de ônibus. E há o efeito indireto, por meio dos possíveis repasses para os preços dos produtos e serviços prestados pelas empresas, diante do aumento de custo com o vale-transporte dos funcionários, avalia Diogo Santos, economista do Ipead/UFMG.
Os combustíveis são outros potencializadores da inflação. Eles são essenciais ao longo das principais cadeias produtivas da economia, desde a produção de alimentos, com o diesel que abastece as máquinas agrícolas, até o transporte de praticamente qualquer produto. Neste momento de alta do dólar e do barril de petróleo internacionalmente, analistas do mercado prendem a respiração sob a possibilidade de a Petrobras reajustar os preços. Contudo, não parece estar nos planos imediatos da nova presidente da estatal. Nesse sentido, já teremos algum nível de inflação devido ao dólar. Se isso chegar à gasolina e ao diesel, o impacto será bem maior, pontua Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps).
Hoje, a média de preço da gasolina é maior em Belo Horizonte do que a do país. Na capital, ela é vendida por R$ 5,98. No Brasil, por R$ 5,86. Já o diesel tem uma trajetória oposta, custando mais no país (R$ 5,88) do que em BH (R$ 5,63). Desde o começo do ano, a gasolina aumentou cerca de 11,8% em BH, enquanto no Brasil a alta foi de 5,4%. O preço do diesel diminuiu 1,4% em BH e, nacionalmente, permaneceu praticamente estável.
Como os demais indicadores da inflação, a habitação também aumentou mais na Grande BH do que no restante do Brasil. O índice foi de 5,83% na capital e região e 3,5% no país. Para quem procurou uma casa para alugar ou comprar nos últimos meses, isso não é surpresa. As próprias imobiliárias admitem o aumento de preço.
Do mesmo modo, o valor do aluguel de um apartamento de um quarto sem garagem na capital quase alcança o salário mínimo. Ele gira em torno de R$ 1.230 e R$ 1.340, segundo levantamento da plataforma Quinto Andar. Ainda mais, em um ano, o valor saltou 12,2%.
A perspectiva é que morar em Belo Horizonte continue ficando mais caro, avalia o economista do Quinto Andar, Evandro Luis. Essa tendência de custos de moradia crescendo mais do que a inflação é algo que pode ser observado claramente na cidade pelo menos desde a pandemia. Não temos grandes razões para imaginar uma tendência diferente no futuro. Isso porque a procura por moradia na cidade segue crescendo. O estoque de imóveis cresce em ritmo bem menor, gerando um descompasso entre demanda e oferta que acaba por refletir em custo alto para alugar e comprar imóveis.
A alta pressiona as famílias e mesmo quem mora sozinho e tem gastos menores, atesta Helbert Pereira, 19 anos. Quando você mora sozinho, sente. No final do mês, querendo ou não, tem que cortar uma continha para não ficar agarrado. Não tem uma kitnet por menos de R$ 700.
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